sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ser cadeirante ou estar cadeirante...

Mais um texto que resolvi republicar, pois tem a ver com o anterior. Este foi escrito em abril de 2010.


SER CADEIRANTE OU ESTAR CADEIRANTE...

A meu ver, existe uma diferença entre ser cadeirante e estar cadeirante.

E antes que passe pela cabeça de alguém me criticar pelo que vou escrever aqui, me chamando de derrotista, pessimista ou coisa parecida, vou logo dizendo que é a minha opinião pessoal, e o que vale para mim pode não valer para as outras pessoas e vice-versa.

Para mim, estar cadeirante significa passar uma temporada na cadeira de rodas. Essa temporada pode variar de alguns dias até alguns anos, dependendo da origem do problema. Mas independente do tempo, cedo ou tarde essa pessoa vai voltar a andar.

Eu sou cadeirante. Há dez anos. Essa é a minha realidade, e é baseado nela que eu toco minha vida. O que aconteceu comigo foi algo sério, grave, e apesar de todos os avanços da medicina, ainda não existe uma cura.

Com frequência recebo notícias de lesados medulares voltando a terem sensibilidade, e até dando alguns passos. É animador e traz esperança. Por enquanto é apenas isso, o que já é muito, pois esperança é algo fundamental na vida de qualquer pessoa, cadeirante ou não.

O fato é que a maior das limitações não está no físico, e sim no psicológico. Ser cadeirante não significa ser incapaz. Muito pelo contrário. Se deixamos de fazer algumas coisas, nos descobrimos capazes de fazer outras tantas. É apenas questão de não se acomodar, de não se esconder, de sair de casa, de conhecer pessoas, de ir à luta.

Ao lesionar minha medula, eu precisei me redescobrir. De um dia para o outro, sem nenhum preparo, me vi num corpo desconhecido para mim, totalmente diferente do que eu estava acostumado.

Mais de dez anos depois, me sinto como se sempre tivesse sido cadeirante. Rever fotos antigas de antes do acidente é, para mim, algo meio estranho. Parece que aquele cara das fotos nunca existiu, parece que não sou eu.

Hoje vivo com um pé na esperança de um dia voltar a andar, e as quatro rodas bem apoiadas no chão, sabendo que isso é praticamente impossível.

Porque primeiro deve ser descoberta uma cura, e depois essa cura tem que estar acessível a mim, financeiramente falando. Se para a medicina, um prazo de 10, 15 ou 20 anos é algo plausível, para mim significa um tempo meio que... longo demais.

Por isso vou tocando a vida como uma pessoa normal. Busco ser feliz como qualquer um, e pra mim isso significa dar muito beijinho na boca linda e macia da Letícia, não deixar nada faltar para minha mãe e meus filhos, poder acelerar cada vez mais meu kart, errar, acertar, cair, levantar, enfim... Viver!

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