terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ser poeta é assim...

O ÚLTIMO TEXTO DO ANO (OU AS PROMESSAS DE UM POETA)
(Alexander Porahy)


Noite de pós-festa, o Natal deixou suas luzes coloridas, sono acumulado e deliciosas rabanadas.

Meia-luz e silêncio na casa. O único movimento é o das mãos sujas de açúcar e canela do poeta enquanto desliza a ponta do lápis pelo papel (ele prefere o lápis à caneta).

Típico costume desta época, ele faz sua lista de resoluções para o novo ano.

Promete não se forçar a fazer exercício...

Porque não são as flexões, mas as reflexões que interessam ao poeta.

Promete não se preocupar em dormir cedo ou tarde...

Porque é acordado que sonha o poeta.

Promete não ter medo do ridículo...

Porque o ridículo impõe limites ao poeta.

Promete não beber...

Porque basta sentimento para embriagar o poeta.

Promete deixar o carro em casa mais vezes e passar a caminhar...

Porque o brilho do sol, o frescor da chuva e o vento no rosto refrigeram a alma do poeta.

Promete comer menos frituras e mais frutas, porque as frutas o fazem lembrar de sua infância, quando subia nos pés de amora e de ameixa e lá se esbaldava...

E boas lembranças alimentam o espírito do poeta.

Promete dar mais valor às coisas simples...

Porque as pequenas coisas tornam grande o poeta.

Promete no próximo ano se apaixonar algumas vezes, e ter seu coração partido em todas elas, e morrer por dentro, para transformar em prosa e verso sua dor...

Porque ainda que morra o amante, vive o poeta.

Enfim, no próximo ano promete simplesmente viver...

Porque cabe ao poeta viver e fazer da vida poesia.

Pequena pausa.

Enquanto aponta o lápis e come rabanada, pensa em como são belas as luzes da árvore de Natal...


domingo, 24 de novembro de 2013

Inspirado...

VOCÊ MERECE POESIA
(Alexander Porahy)


Seu olhar merece poesia
Seu sorriso merece poesia
Suas sardas, suas pintinhas,
Seus pelos dourados merecem poesia

A sombra embaixo dos seus olhos
Merece poesia
Suas unhas e sua boca cor de uva
Merecem poesia
Sua franja e a fita em seu cabelo
Merecem poesia

O bronze de sua pele,
A rosa no seu braço,
As bochechas coradas
E até o perfume que não posso sentir
Merecem poesia

Os beijos que não serão dados,
Os momentos não compartilhados,
Os sonhos não sonhados,
Mesmo eles merecem poesia

Não necessito de muito
(Sua distante presença)
Não peço quase nada
(Sua mera existência)

E ainda que não saiba que me inspira
Eu me permito esta ousadia
E faço de você minha poesia


Pré-conceitos...

PRETA E BRANCA
(Alexander Porahy)


- O que você pensa que está fazendo?

- Ué, estou comendo pipoca.

- Mas... Você é uma galinha! Uma galinha preta!

- Puxa, até que para alguém que tem cérebro de passarinho você é bem esperta! E não é daltônica! Está realmente de parabéns!

- Deixe de ironias. Seu lugar não é aqui nesta praça.

- Ah, tá. Vai me dizer que eu deveria estar numa macumba. Você é tão óbvia com seus estereótipos!

- Não sou óbvia. O bicho homem nos designou papeis. Estou apenas desempenhando o meu. Você deveria fazer o mesmo.

- E qual o seu papel, que mal eu lhe pergunte?

- Ora, sou uma pomba linda, fofa e branca. Represento a paz.

- Logo se vê que não representa a modéstia. Só que por baixo de nossas penas somos todas iguais.

- Não queira se comparar a mim. Sou um animal nobre. Posso voar, como os anjos!

- Quer falar de nobreza? Enquanto eu alimento os homens, você faz cocô em suas cabeças! É mesmo um gesto muito nobre!

- Agora quem está estereotipando é você. Nem toda pomba faz isso. Aliás, por causa de umas poucas, todas acabamos por ficar com a reputação mais suja do que pau de galinheiro. Haha! Entendeu a piada? Pau de galinheiro... Essa foi demais!

- Meeeu Deus! Melhor você continuar representando a paz, porque se depender de fazer piada... hehehe

- Só rindo mesmo... E então, a que conclusão chegamos?

- Ah, acho que no fundo todos nós temos nossos preconceitos. Talvez tenhamos nos aproximado demais desse tal de bicho homem.

- Pode ser. Mas você há de convir que a pipoca deles é uma delícia...

- Ô se é! E por falar em pipoca, está na hora de voltar pro galinheiro. Até porque a velhinha que jogava as pipocas foi embora faz tempo.

- Também me vou. Vá pela sombra, galinha preta!

- E você fique na paz, pombinha branca!

E lá se vai a galinha preta pela estrada rumo ao sítio onde mora, pensando no quanto tinha sido boba em rotular a pomba branca. No fundo esta era uma boa pessoa, ou melhor, uma boa ave.

De repente, não mais que de repente, a galinha preta recebe uma rajada de cocô em sua cabeça.

Desnorteada, tudo que ela consegue distinguir nesse momento é a gargalhada sádica de uma certa pombinha branca...

sábado, 23 de novembro de 2013

Brincadeirinha...

DOLORES
(Alejandro Puerahy)


Dolores, ah Dolores...
Mas do que nunca estas presiente em mi bida.
Desde mi cabieça, passando por mi pescueço, cuestas, barriega...
Só no eres mas presiente porque abajo de mi umbiego no sinto nadie.

Ah Dolores, Dolores...
iDejame Dolores!

#UmMinutoDeSilêncioPelaMorteDoEspanhol

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Muito Bom É Te Ver!

MUITO BOM É TE VER!
(Alexander Porahy)


Preciso dizer,
Falar, escrever,
Se for feliz, descrever
Tão grata visão
Fonte de inspiração

Eu estava em meu canto
Quando, como que por encanto
E sem pedir licença
Luz em forma de sorriso
Alumiou, clareou, iluminou,
Transformou o escritor
Em secreto admirador

Olhar castanho cativante,
Fascinante, faiscante
Dizem tudo, não necessitam palavras,
Essas duas bolinhas brilhantes

Sobrancelhas grossas,
Longos e lisos cabelos
Emolduram
O rosto perfeito

Atitude e alegria
Presença que contagia
E torna
Mais leve o viver

Bom é te ver,
Ainda que distante,
Ainda que em segredo,
Ainda que não deva dizer,
Muito bom é te ver!


Deficiente?

O DEFICIENTE (?)
(Alexander Porahy)


O deficiente (?)
É uma pessoa normal
E como pessoa normal
Tem o direito de ser

Tem o direito
De errar e acertar,
De cair, levantar,
Ir pra lá, vir pra cá,
De amar, de sofrer,
De sorrir e chorar,
De ganhar, de perder,
De sonhar, de realizar,
E, principalmente,
Viver!