domingo, 24 de novembro de 2013

Pré-conceitos...

PRETA E BRANCA
(Alexander Porahy)


- O que você pensa que está fazendo?

- Ué, estou comendo pipoca.

- Mas... Você é uma galinha! Uma galinha preta!

- Puxa, até que para alguém que tem cérebro de passarinho você é bem esperta! E não é daltônica! Está realmente de parabéns!

- Deixe de ironias. Seu lugar não é aqui nesta praça.

- Ah, tá. Vai me dizer que eu deveria estar numa macumba. Você é tão óbvia com seus estereótipos!

- Não sou óbvia. O bicho homem nos designou papeis. Estou apenas desempenhando o meu. Você deveria fazer o mesmo.

- E qual o seu papel, que mal eu lhe pergunte?

- Ora, sou uma pomba linda, fofa e branca. Represento a paz.

- Logo se vê que não representa a modéstia. Só que por baixo de nossas penas somos todas iguais.

- Não queira se comparar a mim. Sou um animal nobre. Posso voar, como os anjos!

- Quer falar de nobreza? Enquanto eu alimento os homens, você faz cocô em suas cabeças! É mesmo um gesto muito nobre!

- Agora quem está estereotipando é você. Nem toda pomba faz isso. Aliás, por causa de umas poucas, todas acabamos por ficar com a reputação mais suja do que pau de galinheiro. Haha! Entendeu a piada? Pau de galinheiro... Essa foi demais!

- Meeeu Deus! Melhor você continuar representando a paz, porque se depender de fazer piada... hehehe

- Só rindo mesmo... E então, a que conclusão chegamos?

- Ah, acho que no fundo todos nós temos nossos preconceitos. Talvez tenhamos nos aproximado demais desse tal de bicho homem.

- Pode ser. Mas você há de convir que a pipoca deles é uma delícia...

- Ô se é! E por falar em pipoca, está na hora de voltar pro galinheiro. Até porque a velhinha que jogava as pipocas foi embora faz tempo.

- Também me vou. Vá pela sombra, galinha preta!

- E você fique na paz, pombinha branca!

E lá se vai a galinha preta pela estrada rumo ao sítio onde mora, pensando no quanto tinha sido boba em rotular a pomba branca. No fundo esta era uma boa pessoa, ou melhor, uma boa ave.

De repente, não mais que de repente, a galinha preta recebe uma rajada de cocô em sua cabeça.

Desnorteada, tudo que ela consegue distinguir nesse momento é a gargalhada sádica de uma certa pombinha branca...

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