(Alexander Porahy)
Noite de pós-festa, o Natal deixou suas luzes coloridas, sono acumulado e deliciosas rabanadas.
Meia-luz e silêncio na casa. O único movimento é o das mãos sujas de açúcar e canela do poeta enquanto desliza a ponta do lápis pelo papel (ele prefere o lápis à caneta).
Típico costume desta época, ele faz sua lista de resoluções para o novo ano.
Promete não se forçar a fazer exercício...
Porque não são as flexões, mas as reflexões que interessam ao poeta.
Promete não se preocupar em dormir cedo ou tarde...
Porque é acordado que sonha o poeta.
Promete não ter medo do ridículo...
Porque o ridículo impõe limites ao poeta.
Promete não beber...
Porque basta sentimento para embriagar o poeta.
Promete deixar o carro em casa mais vezes e passar a caminhar...
Porque o brilho do sol, o frescor da chuva e o vento no rosto refrigeram a alma do poeta.
Promete comer menos frituras e mais frutas, porque as frutas o fazem lembrar de sua infância, quando subia nos pés de amora e de ameixa e lá se esbaldava...
E boas lembranças alimentam o espírito do poeta.
Promete dar mais valor às coisas simples...
Porque as pequenas coisas tornam grande o poeta.
Promete no próximo ano se apaixonar algumas vezes, e ter seu coração partido em todas elas, e morrer por dentro, para transformar em prosa e verso sua dor...
Porque ainda que morra o amante, vive o poeta.
Enfim, no próximo ano promete simplesmente viver...
Porque cabe ao poeta viver e fazer da vida poesia.
Pequena pausa.
Enquanto aponta o lápis e come rabanada, pensa em como são belas as luzes da árvore de Natal...